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sábado, julho 09, 2011

Sociologia.:. Consciencia Moral e a Liberdade humana

Consciência Moral e a Liberdade humana

Neste trabalho relataremos a conseqüência psíquica, moral e psicanálise. Os seus caracteres e diferenças pela qual muitas vezes confundimos entre psicologia ou psíquica com conseqüência moral. Esta que dita nossos deveres e leva-nos a formular juízos de valor sobre nossos atos e os de nossos semelhantes. A conseqüência psíquica não julga, ela, ela limita-se a nos informar do que se passa em nós. Trataremos também da psicanálise, o tratamento, a cura de uma enfermidade não corporal mas da psique. Todos estes descritos serão estudados mais a fundo neste trabalho.

A consciência

A consciência psicológica é o poder que possui o espírito de perceber a si mesmo. É a intuição que um ser tem das modificações que nele se processam, a função pela qual conhecemos nossa vida interior. A consciência pode ser considerada sob quatro aspectos: conteúdo (objeto à consciência); atividade (função psíquica unificadora da vida mental); violência (experiência vital, estado vivido das consciências); saber (conhecimento das coisas vividas ou aprendidas).A intencionalidade, isto é, o ato de tender a algo distinto de si mesmo, é o caráter de toda consciência atual. A consciência só existe, portanto, como consciência, algo distinto de si mesma, a consciência revela a objeto, revela a si mesma.

Consciência psíquica

Sob ponto de vista psicológico, a consciência caracteriza-se por uma atividade de síntese mental, que consiste em coordenar, num ato único de pensamento, um número, maior ou menor, de elementos psíquicos. O tipo dessa atividade sintética é representado pela atenção, que se manifesta pela unificação da vida psíquica nem  sentido determinado, acompanhada de um grau elevado de consciência. A síntese mental pode ainda ser encontrada na percepção (consciência simultânea da direção geral do pensamento e da ligação lógica entre as proposições sucessivas). Todos os fenômenos psíquicos que não se encontram integrados nessa síntese mental, isto é, que se acham à margem do curso do pensamento principal, escapam à consciência. São elementos psíquicos que ficam isolados e ignorados do pensamento claro. Os atos que correspondem a esses elementos constituem as distrações; eles são inconscientes nesse momento, mas podem revelar-se à consciência por suas conseqüências. A intensidade da impressão não é, como parece, o fator necessário e suficiente da consciência. Realmente, o fator intensidade é muito relativo. Tal fato exterior, que sobre um indivíduo produz impressão considerável, mal é percebido por outro, colocado entretanto, nas mesma condições externas, mas absorto em profunda reflexão. De outro ponto de vista, s intensidade é sempre mais ou menos relativa, pois depende dos interesses do momento. Depende também do hábito. Formas de consciência® Consciência expontânea: é o conhecimento imediato que acompanha todos os fenômenos psicológicos. Poderia ser, por isso, melhor denominada consciência direta ou imediata, porque é a primeira impressão de nossos estados psíquicos. “Se não fosse essa consciência, todos esses estados nos iam ser estranhos, exatamente como os fenômenos da vida vegetativa.” A consciência expontânea é confusa e indistinta: é uma espécie de sentimento global da vida psicológica, pela qual esta nos é dada sobretudo pela continuidade em seu fluir. Consciência refletida: é a volta deliberada do espírito sobre si mesmo, os fatos surgem bruscamente e se impõe ao nosso espírito. Na consciência refletida, nascem de uma elaboração, de uma reflexão mais ou menos prolongada. Podemos dizer que consciência refletida é a consciência de si mesma. Foulquié, prefere distinguir, de um lado, a consciência imediata ou não- posicional, isto é, que não situa, não afirma nada, nem objeto, nem sujeito; de outro lado, a tomada de consciência ou consciência posicional, que situa ou afirma alguma coisa. Esta tomada de consciência é diretamente consciência do objeto. Nos seres capazes de reflexão, como o homem, ela se torna consciência de si mesma.

Graus da consciência

A consciência apresenta, vários graus de ou níveis de intensidade, clareza e concentração. Costuma-se destacar nela três zonas principais: a) a consciência propriamente dita, que é a zona mais clara e intensa, chamada foco da consciência; b) o subconsciente, que é a zona parcialmente iluminada, marginal ou crepuscular da consciência; c) o inconsciente, que é a zona escura ou noturna da vida psíquica. Essas zonas não estão separadas, pelo contrário, acham-se unidas e em contínua integração. Todas dependem uma das outras. E a atividade sintética da consciência na sua função de adaptação ao real só consegue êxito graças à colaboração do subconsciente e do inconsciente.Entre essas zonas de maior ou menor intensidade da vida psíquica existem graus intermediários de consciência. A maioria admite a divisão clássica: consciência, subconsciente e inconsciente. Já os psicanalistas estabelecem outra divisão. Para Freud. A vida psíquica compreende três zonas: a do Ego, a do Superego e a do Id. O Ego compõe-se de elementos conscientes e pré- conscientes. O Superego é constituído pelo inconsciente recalcante; O Id., pelo inconsciente recalcado. Jung assinala na vida psíquica a consciência, o pré-consciente e o inconsciente. Mas divide este em inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Luís Juan Guerrero, a vida psíquica abrange três zonas: a) a zona propriamente consciente, onde se distinguem o foco da consciência e o campo marginal da consciência; b) a zona intermediária do umbral da consciência, que representa a consciência diminuída ou liminiar; c) a zona infraconsciente, que compreende a subconsciência ou consciência virtual, e a inconsciência ou consciência dissociada.
Na realidade, a consciência é uma só com graus diversos de intensidade, clareza e concentração. É uma concepção espacial que não reflete, com fidelidade, a natureza unitária, global e dinâmica da vida psíquica.Essas zonas assinaladas pelos psicólogos só podem ser admitidas como hipóteses de trabalho para exprimir os diversos níveis da vida psíquica, em que a consciência se torna, cada vez menos clara, vivia e concentrada, à medida em que os fenômenos psíquicos estão menos ligados às imagens pessoais do eu. Na mesma medida em que se desligam das imagens pessoais do eu., os fatos psíquicos tendem a transformar-se em puras virtualidades atualizam-se em razão e em proporção de sua relação com as imagens e os interesses pessoais do eu.Caracteres da consciênciaA consciência possui os seguintes caracteres fundamentais:® Dinamismo: os fatos de consciência se sucedem e se transformam, sem interrupção.® Tonalidade: os fatos da consciência formam conjuntos unitários e coerentes. Estes conjuntos constituem diversos planos ou níveis de unificação.
 Os fatos da consciência forma estruturas complexas, inter-relacionadas, comparáveis a estratos superpostos, os processos de maior concentração mental determinam uma maior unidade consciente, enquanto que os processos psíquicos de menor tensão e maior dispersão se produzem num nível ou estrato inferior da consciência.
® Imediatismo: os fatos da consciência, em razão de serem a experiência que o sujeito tem de si mesmo, não admitem intermediário.
® Subjetividade: os fatos da consciência possuem sempre relação com um eu, são portanto, pessoais ao sujeito e, como tais, incomunicáveis e invioláveis. Esses fatos são incomunicáveis, invioláveis. É um mundo fechado.
® Intencionalidade: os fatos da consciência se referem sempre a algum objeto, isto é, tendem para alguma coisa. Daí o axiona fundamentalmente da femenologia: a consciência é sempre a consciência de alguma coisa e não dela mesma ou de seus estados.
® Prospecção: os fatos da consciência integram-se no comportamento do homem permanente é a adaptação ao meio e à realidade.Patologia da consciênciaA consciência pode sofrer, em determinados casos, as seguintes alterações patológicas:
® Obnubilação: debilitação psíquica da convivência com diminuição se sua clareza e enfraquecimento da atividade intelectual. Nas intoxicações, nas infecções, nos estados demenciais, etc.
® Estado crepuscular: forma transitória de obnubilação, com alterações da percepção do mundo exterior. Observa-se na histeria, na epilepsia, nas psicoses tóxicas, etc.
 ® Onirismo: No sonho normal ou nos estados oníricos de certas psicoses, a consciência perde a tensão psíquica, dissocia-se, desintegra-se, torna-se incapaz de assegurar a síntese mental e é denominada pelas pulsões do inconsciente e do intestino.                            
® Coma: estado de sonolência e de torpor profundo acompanhado de suspensão, mais ou menos completa, da atividade psíquica, com perturbações da mortalidade e da sensibilidade.Função da consciênciaA consciência constitui o instrumento de percepção do espírito pelo próprio espírito, órgão de adaptação da vida psíquica à realidade. Para o exército dessa dupla função, a consciência: a) por meio da atenção, escolhe, seleciona os fatos do mundo exterior ou interior; b) por meio da associação, reúnem os fatos em sínteses ou estruturas articuladas; c) por meio de hábito, assimila, isto é, integra no próprio seio os fatos escolhidos e associados; d) por meio do eu e da síntese e à ação. A consciência representa assim, o foco de convergência e de irradiação de toda a vida psicológica.

 A Consciência Moral e a Liberdade Humana

         A consciência de si mesmo ou auto consciência confere ao ser humano a capacidade de julgar ações, e de escolher, dentre as circunstâncias possíveis, sue próprio caminho na vida.
            A essa característica peculiar ao homem, de julgar suas próprias ações, decidindo se elas são boas ou más, damos o nome de consciência moral.
            A possibilidade que o homem tem de escolher seu caminho na vida e constituir sai historia damos o nome de liberdade. Evidentemente a liberdade é algo que não se exerce no vazio, mas dentro das limitações impostas pelas circunstancias. Pois, como escreveu Karl Marx, “os homens fazem suas própria historia, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstancias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.
            A liberdade e a consciência  estão o intimamente relacionadas. Isso porque só tem sentido julgar moralmente a ação de uma pessoa se esta ação foi praticada em liberdade. Quando não se tem escolha (liberdade), é impossível decidir entre o bem e o mal (consciência moral).
            Entretanto, quando estamos livres para escolher entre esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos. É esta responsabilidade que pode ser julgada pela consciência moral do próprio indivíduo ou do grupo social.
            Para melhor compreender esta síntese, veremos mais a fundo a liberdade, os valores e o homem propriamente dizendo sobre sua consciência diante destes conteúdos.
        
O que é valor?

         Há, mundo das coisas e o mundo dos valores. Mas não podemos dizer que os valores são da mesma maneira que as coisas são. Isto é, não existe o valor em si enquanto coisa, mas o valor é sempre uma relação entre o sujeito que valora e o objeto valorado.
            Isso significa que os valores existem na ordem da afetividade, ou seja, não ficamos indiferentes diante de alguma coisa ou pessoa, pois somos sempre afetados por elas de alguma forma. Reclamamos da caneta que não escreve bem, ouvimos várias vezes com prazer a música de nossa preferência, recriminamos que usa de violência e assim por diante.
            Valorizar é uma experiência fundamentalmente humana que se encontra no centro de toda escolha de vida. Fazer um plano de ação nada mais é do que dar prioridade a certos valores, ou seja, escolher o que é melhor (seja do ponto de vista moral, utilitário etc.) e evitar o que é prejudicial para se atingir os fins propostos.
            A conseqüência de qualquer valoração é, sem duvida, dar regras para a ação prática. Assim, se o ar é um valor para o ser vivo, é preciso evitar que a poluição atmosférica prejudique a qualidade desse bem indispensável. Se a credibilidade é um valor, não posso estar o tempo todo mentindo, caso contrário as relações humanas ficariam prejudicadas. Portanto, diante daquilo que é , a experiência dos valores orienta para o que deve ser.
            Neste capítulo, dentre os mais diversos valores possíveis, escolhemos analisar os valores morais. Moral é o conjunto de regras de conduta consideradas válidas para um grupo ou para uma pessoa.
            Veremos, a seguir, qual é a origem desses valores e o que caracteriza o atro propriamente moral.
        
         De onde vêm os valores?

         Se os valores não são coisas, pois resultam da experiência vivida pelo homem ao se relacionar com o mundo e os outros homens, talvez pudéssemos concluir que tais experiências variam conforme o povo e a época. É o que parece nos sugerir a diversidade de costumes: para algumas tribos, é indispensável matar os velhos e as crianças que nascem com algum defeito, o que para nós pode parecer incrível crueldade. Na Idade Média era proibido dissecar cadáveres, e no entanto as instituições de justiça tinham o direito de torturar seres vivos. Nosso costume de comer bife escandaliza o hindu, para quem a vaca é animal sagrado.
            Isso significa que os valores são em parte herdados da cultura. Aliás, a primeira compreensão que temos do mundo é fundada no solo dos valores da comunidade a que pertencemos.
            Em tese, tais valores existem para que a sociedade subsista, mantenha a integridade e possa se desenvolver. Ou seja, a moral existe para se viver melhor. Talvez essa afirmação cause espanto, se considerarmos que as regras morais são concebidas como condição de repressão humana, sendo, assim, geradoras de infelicidade. Isso também é verdadeiro, mas só enquanto deformação da moral autêntica e em contexto diferente daquele que estamos considerando aqui. O que nos interessa enfatizar, em grupos humanos precisam de regras para viver bem.
            Por isso é possível entender como, em certas tribos, onde há escassez de alimentação, há o costume de matar crianças defeituosas e velhos incapazes de produzir, uma vez que se tornam peso prejudicial à sobrevivência do grupo.
            Dito de outra forma, mesmo que varie o conteúdo das regras morais, conforme a época ou lugar, todas as comunidades têm a necessidade formal de regras morais. É formalmente correto que a coragem é melhor que a covardia, que a amizade é um valor desejável entre os membros de um grupo. No entanto, a coragem é um valor formal cujo conteúdo varia. Tomemos um exemplo corriqueiro, ainda que não referente à moral propriamente dita: se alguns riem do caipira com medo de atravessar a avenida na grande cidade, certamente será ele que rirá do citadino assustado com sapos e cobras na fazenda. Transportando o exemplo para o campo da moral, a coragem do guerreiro da tribo é certamente diferente da coragem do homem urbano desafiado, por exemplo pêlos riscos da corrupção.
            Se amizade é um valor universal, a sua expressão varia conforme os costumes. Na sociedade patriarcal, em que a mulher se encontra confinada ao lar e subordinada ao homem, é impensável que ela tenha amigos do sexo masculino fora do círculo de amizades do seu próprio marido ou distante do seu olhar benevolente. Isso muda nos núcleos urbanos, após a liberação da mulher para o trabalho fora do lar.

         Social e pessoal

         Voltemos à objeção ensaiada alguns parágrafos atrás; nem sempre as regras morais visam ao bem da comunidade enquanto um todo. Sendo inúmeros os exemplos, vamos selecionar apenas alguns deles.
            Por mais estável que seja a sociedade, sempre há mudança das relações entre as pessoas e grupos, na luta das relações entre as pessoas e grupos, Então, certas regras valem em determinadas circunstancias e deixam de valer quando ocorrem alternações nas relações humanas. No entanto, existe a tendência de se resistir às mudanças, e, quando as regras permanecem mudanças inflexíveis, sedimentadas, acabam sendo esvaziadas de seu conteúdo vital e ficam caducas e sem sentido. A sociedade passa, então, por um momento de crise moral para cuja superação são exigidas inventividade e coragem, a fim de ser recriada uma moral verdadeiramente dinâmica e comprometida com a vida.
            A experiência efetiva da vida moral supõe, portanto o confronto continuo entre a moral constituinte, representada pela critica aos valores ultrapassados, o esforço do constituição da vida moral exige a discussão constante dos valores vigentes, a fim de verificar em que medida sua realização se faz da vida ou da alienação.

O sujeito moral

         Seriam então os valores, além de relativos ao lugar e ao tempo também subjetivos isto é dependentes das avaliações de cada indivíduo?
            Se cada um pudesse fazer o que bem entendesse, não haveria  moral propriamente dita. O sujeito moral tem a intuição dos valores como resultado da intersubjetividade, ou seja, da relação com os outros.
            Ninguém nasce moral, mas torna-se moral. Há uma longa caminhada a sei percorrida para a aprendizagem de descentralização do eu subjetivo, a fim de superar o egocentrismo infantil e tornar-se capaz de “conviver”.
        
O homem virtuoso

         Quando nos referimos ao homem virtuoso, a imagem que nos vem é de alguém amável, dócil, cordato, capaz de renuncia e pronto para servir aos outros. Trata-se de uma representação inadequada e muitas vezes perigosa. Nietzsche referia-se à moral se escravos , como sendo aquela em que as falsas virtudes se fundam na fraqueza no servilismo, na renuncia do amor de si e portanto, na negação dos valores vitais.
            A palavra virtude vem do latim vir, que designa “ o homem”, o “varão” (daí o objetivo viril). Virtus é o poder “força”, “capacidade”. O termo grego arrete significa  qualidade  da excelência, mérito. Portanto o homem virtuoso nada tem de frágil; ao contrário, virtude é a capacidade de ação, é a potência. Para Kant, a virtude é a força de resolução que revela o homem na realização do seu dever.
            A virtude, enquanto disposição para querer o bem, supõe a coragem de assumir os valores escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação.
            Por isso a noção de virtude não se restringe a apenas um ato moral, mas consiste na repetição e continuidade do agir moral. Aristóles já afirmava que uma andorinha só não faz verão para dizer que a virtude não se resume no ato ocasional e fortuito, mas precisa tornar-se um hábito.
        
Obrigação e liberdade

         No breve percurso que fizemos até aqui, percebermos que o ato moral é complexo e supõe contradições insolúveis entre social e pessoal, tradição e inovação e assim por diante. Não há como optar por apenas um lado da questão, mas é preciso admitir que tais contradições constituem o próprio “tecido” da moral.
            Continuando na mesma linha, não deixa de nos causar perplexidade o fato de que o ato moral exige obrigação e liberdade.
            Se a construção de ciência moral se realiza a partir da aprendizagem da convivência entre os homens é preciso admitir que o ato moral é um ato de vontade. Como tal, distingue-se do desejo, já que é involuntário, surge com maior ou menor força e traz a exigência de realização.
            Por isso, todo ato moral esta sujeito a sanção ou seja merece aprovação ou desaprovação elogio ou censura. O senso moral reage porque nossa afetividade foi atingida: certos atos considerados imorais, como por exemplo o assassinato de uma criança provocam-nos indignação.

Processo moral

         Nem sempre a mudança moral eqüivale a processo moral. Existe processo quando se dá um avanço com melhoria de qualidade. Isso significa que certos valores antigos não precisam ser considerados necessariamente ultrapassados, da mesma forma que valores dos novos tempos algumas vezes podem não indicar progresso.
            Quais seriam então os critérios para avaliar o progresso moral? Examinemos alguns deles.

·     Ampliação da esfera moral: certos atos cujo cumprimento antes era garantido pela força legal (direito) por constrangimento social (costumes) ou por imposição religiosa, passaram a ser cumpridos por exclusiva obrigação moral. Por exemplo, um pai divorciado não precisaria da lei para reconhecer a obrigação de continuar sustentando seus filhos menores de idade. Por outro lado, certas situações em que as pessoas fazem o bem tendo em vista a re3compensa divina são indicadores de diminuição de esfera moral, porque nesse caso, o estímulo para a ação não é a obrigação moral, mas uma certa “barganha” visando recompensa.
·     Caráter consciente e livre da ação: a responsabilidade moral esta na exigência de um compromisso livremente assumido. Responsável é a pessoa que reconhece seus atos como resultantes da vontade e responde  pelas conseqüências deles. Quando adultos, como mulheres e escravos, permanecem tutelados, o resultados é o empobrecimento moral das relações humanas.
·     Grau de articulação entre interesses coletivos e pessoais: enquanto nas tribos primitivas o coletivo predomina sobre o pessoal, nas sociedades contemporâneas o individualismo exacerbado tende a desconsiderar os interesses da coletividade. É importante que o desenvolvimento de cada um não seja feito à revelia do desenvolvimento dos demais.

Mas os problemas decorrentes da decadência ética que presenciamos não podem ser resolvidos a partir de tentativas isoladas de educação moral do indivíduo. É preciso que exista vontade de política de alterar as condições patogênicas, isto é, as condições geradoras da doença social, para que se possa dar possibilidade de superação da pobreza moral.
Dito de outra forma, não basta “reformar o indivíduo para reformar a sociedade”. Um projeto moral desligado do projeto político está destinado ao fracasso. Os dois processos devem formar o homem plenamente moral só é possível na sociedade que também se esforça para ser justa.

A liberdade

Transpondo tais considerações do campo da ciência da natureza para o nível humano, não há como negar que também o homem se acha preso a determinismo: tem um corpo sujeito às leis da Física e da Química, é um ser vivo que pode ser compreendido pela biologia. Por isso, já no século XVIII, os materialistas franceses D’Holbacj e La Mettrie reduziam os atos humanos a elos de uma cadeia causal universal.
Temos de admitir inclusive a existência de determinados psicológicos na atividade psíquica normal e cotidiana, pela qual o homem entra em contato com o mundo para conhece-lo e reagir afetivamente a ele. Por exemplo, se nos preocupamos com métodos de ensino, é preciso antes compreender os mecanismos de inteligência humana, tais como, memória, invenção, instituição, abstração e assim por diante. Por isso, a aprendizagem da aritmética era tão penosa antigamente: desconhecendo-se que o pensamento infantil ainda é concreto, exigia-se a criança o uso do raciocínio abstrato, cujo desenvolvimento só acontece a partir da adolescência.
Watson e Skinner, psicólogos contemporâneos pertencentes à corrente comportamentista, consideram que o homem tem a ilusão de que é livre, quando na verdade apenas desconhece as causas que agem sobre ele. Com o desenvolvimento da ciência do comportamento seria possível conhecer de tal forma as modificações que daria para prever e portanto planejar o comportamento humano. Aliás, é esse o tema de um romance de Skinner, Walden II, onde uma equipe de cientistas do comportamento dirige um cidade utópica.
Além de todos esses aspectos determinados, podemos acrescentar os determinados culturais: ao nascer, o homem se encontra em um mundo já constituído, recebendo como herança a moral, a religião, a organização social e  política, a língua, enfim os costumes que não escolheu e que de certa forma determinam sua maneira de sentir e pensar.

As condições da liberdade

Para os deterministas, tudo tem uma causa, inclusiva a ação humana. Podemos até conhecer tais causas, mas elas existem. Levar essas conclusões até as últimas conseqüências é admitir que o homem  não é livre.
Afinal, o homem é livre ou é determinado?
Não há como negar os determinismo que agem sobre o homem, já que ele se encontra situado no tempo e no espaço, tendo recebido uma herança cultural específica. Mas o homem não  apenas essa situação dada, é também a consciência do determinados. Isso significa que, ao tomar conhecimento das causas que agem sobre ele, é capaz de realizar uma ação transformadora, a partir de um projeto de ação. Deixa de ser passivo e passa a ser atuante.
Se um primeiro momento a criança é levada pela predominância do desejo, ao mesmo tempo que é constrangidas pelas normas quer lhe são exteriores, a educação consiste no esforço de superação de tal estádio. O universo infantil é marcado pela heteronomia, em que as ações são0 comandadas “de fora”, pêlos valores herdados dos pais e da sociedade em que ela vive. Quando a educação é boa, a criança deve caminhar em direção a autonomia, à deliberação, à capacidade de organização autônoma das regras.
Bem sabemos que nem sempre é isso que ocorre de fato...

Liberdades

Quando nos referimos à liberdade de maneira geral, é preciso admitir que são vários os enfoques pelos quais podemos compreende-la. Se ninguém é solitário, pois convive na sociedade dos homens,, a liberdade é um desafio que permeia todos os campos da atividade humana.
Assim, podemos falar em liberdade ética quando nos referimos ao sujeito moral, capaz de decidir com autonomia a respeito de como deve se conduzir em relação a si mesmo a aos outros. Kant dizia que a liberdade consiste na obediência às leis que o próprio moral se impõe.
A liberdade econômica não deve ser confundida com a liberdade absoluta nos negócios. Por outro lado, porque toda atividade produzida supõe relações de dependência entre as pessoas e, por outro, porque convém precaver-se contra as aparências da liberdade. A livre iniciativa, fundada na idéia de que deve vencer o melhor”, muitas vezes nos faz esquecer de que em uma competição esportiva, por exemplo, os concorrentes sempre a iniciam em pé de igualdade: mesmo quando os talentos são diferentes, todos começam juntos na linha de partida.
A liberdade jurídica é uma das conquistas das modernas sociedades democráticas que defendem a igualdade perante a lei. Ninguém pode ser submetido à servidão e a escravidão; qualquer um tem ( ou deveria ter...) a garantia de liberdade de locomoção e ação, nos limites estabelecidos pela lei.
A aristocracia supõe a existência de indivíduos especiais que teriam privilégios. Foi contra as vantagens da nobreza que a burguesia se insurgiu no século XVIII, implantando os idéias contidos na Declaração dos Direitos que surgiram de inspiração para a construção da nova ordem daí em diante.
No entanto, nem todos têm acesso a lei de igual maneira. A justiça é lenta e cara e o poder econômico interfere sempre que pode. Ao se fazer as leis de um país, é quase impossível evitar a interferência daqueles que detêm algum poder e desejam manter privilégios. Por ocasião da constituinte de 1988, a discussão a respeito de mais diversos assuntos, como reforma agrária, aposentadoria e verbas para educação pública, foi alvo de pressões das mais diversas, não podendo ser subestimadas as forças decorrentes do poder econômico.
Podemos concluir que a liberdade não é alguma coisa que é dada, mas resulta de um projeto de ação. É uma árdua tarefa cujos desafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando os riscos de perda da liberdade. Como vimos, os descaminhos da liberdade surgem quando ela é sufocada a revelia do sujeito - no caso da escravidão, da prisão injusta, da exploração do trabalho, do governo autoritário - ou quando o próprio homem e ela abdica, seja por comodismo, medo ou insegurança.

Concepções éticas

Agir de acordo com o bem

Podemos dizer que a reflexão ética se inicia no mundo ocidental na Grécia antiga, no século V a.C., quando se acentua o desligamento da compreensão de mundo baseada nos relatos místicos. Os sofistas rejeitam o fundamento religioso da moral e consideram que os princípios morais resultam das convenções sociais. Por essa época destaca-se o esforço de Sócrates no sentido de se contrapor á posição dos sofistas buscando os fundamentos da moral não nas convenções mas na própria natureza humana. Seu discípulo Platão, no dialogo chamado Eutíforn, mostra Sócrates discutindo inicialmente sobre as ações o homem ímpio ou santo conforme a ordem constituída para então se perguntar em que consiste a impiedade e a santidade em si, independentemente dos casos concretos.
Para os hedonistas o bem se encontra no prazer. Em um sentido bem genérico, podemos dizer que a civilização contemporânea é hedonista quando identifica a felicidade com a aquisição de bens de consumo: ter uma casa, carro, boas roupas, boa comida, múltiplas experiências sexuais. E, também, na incapacidade de tolerar qualquer desconforto, seja uma simples dor de cabeça, seja o enfrentamento sereno das doenças e da morte.
No entanto, o principal representante do hedoismo grego, no século III a.C., Epicuro, considera que os prazeres os corpo são causadas de ansiedade e sofrimento, e, para a alma permaneça imperturbável, é preciso, portanto, desfazer os prazeres materiais. Essa atitude o leva a privilegiar os prazeres espirituais, dentre ao quais destaca aqueles referentes á amizade.
Varias têm sido as soluções encontradas para as questões éticas no decorrer da história da filosofia, mas desde a expansão do cristianismo a cultura ocidental ficou marcada pela tradição moral cujo fundamento se encontra nos valores religiosos e na cresça na vida depois da morte, Nessa perspectiva, os valores são considerados transcendentes, porque resultam de doação divina, o que costuma levar à identificação do homem moral com o homem temente a Deus.
No entanto, a partir da Idade Média Moderna, culminando no movimento da ilustração no século XVIII, a moral se trona laica. Portanto, ser moral e ser religioso deixam de ser inseparáveis, tornando-se perfeitamente possível admitir que um homem ateu seja moral, e, mais ainda, que o fundamento dos valores não se encontra em Deus, mas no próprio homem.

A moral iluminista

O século XVIII é conhecido como o século das Luzes, porque em todas as expressões do pensamento e atividade do homem, a razão, como a luz, se torna o instrumento para interver e reorganizar o mundo. Recorrer à razão supõe a recusa da intolerância religiosa, a rejeição do critério de autoridade. Para Kant, maior expoente do iluminismo, a ação moral é autônoma, pois o homem é o único ser capaz de se determinar segundo leis que a própria razão estabelece.
Portanto a moral iluminista é racional, laica, acentua o caráter pessoal da liberdade do indivíduo e o seu direito de contestação. Também é uma moral universalista, porque, embora admitia as diferenças dos costumes dos povos, aspira por encontrar o núcleo comum de valores universais.

Em busca do homem concreto

A partir do século e no decorrer do século XX, os filósofos começam a se posicionar contra a moral formalista kantiana findada na razão universal, abstrata, e tentam encontrar o homem concreto da ação moral.
É nesse sentido que podemos compreender o esforço de pensadores tão diferentes como Nietzsche, Marx, Kierkegaard, Freud e os existencialistas. Dentre estes, vamos destacar brevemente a importante contribuição de Nietzsche.
A moral cristã é a moral do rebanho geradora de sentimentos de culpa e ressentimentos, e fundada na aceitação do sofrimento, da renuncia, do altruísmo, da piedade, típicos da moral dos fracos.
A questão que se coloca hoje é a da superação dos empecilhos que dificultam a existência de uma vida moral autêntica.
Ainda mais: o esforço de recuperarmos da ética passa pela necessidade de não se esquecer da dimensão planetária da sociedade contemporânea, quando todos os pontos da terra, essa aldeia global, se acham ligados pelos meios de comunicação de massa e pelos mais velozes transportes. Isso nos faz considerar a moral além dos limites restritos dos pequenos grupos, como a família, o bairro, a cidade, a pátria. A generosidade da moral planetária supõe a garantia da pluralidade dos estilos de vida, a aceitação das diferenças, sem que se sucumba à tentação de dominar o outro por considerar a diferença um sinal de inferioridade.

A amizade

A adolescência é o momento em que os amigos assumem papel primordial, que grupos se formaram, que descobrimos, poucos a pouco, nossa identidade. Em função disso, trataremos aqui da amizade, embora a abordagem seja mais psicológica que propriamente filosófica.

Características da amizade

A amizade é uma relação de amor, de afeto, de tipo muito especial. Ela se desenvolve no tempo, a partir de encontros sucessivos que nos revelam novas perspectivas, novos caminhos, fazendo-nos compreender uma parte de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. É um momento de autenticidade frente à diversidade do outro.
A amizade não envolve sofrimento. Os amigos sentem-se bem na companhia um do outro, sem ambivalência. Não há lugar para mesquinharias, maledicências nem mal-entendidos. Cada um ajuda o outro a descobrir, por si mesmo, aquilo que é essencial em sua vida, percorrendo juntos uma parte do caminho.
A amizade é um sentimento recíproco. Não é possível ser amigo.
A  amizade é uma relação descontínua. Podemos passar muito tempo sem ver um amigo, mas, quando vemos, é uma alegria, um reencontro sem cobranças pelo tempo que passou. Podemos retomar as conversas, sem obstáculos, sem mal-estar, sem maiores explicações.
            A amizade, também, não é exclusivista, ou seja, podemos ter vários amigos, sem que um roube nada do que damos ao outro. Não há concorrência entre amigos. Há reconhecimento do valor da individualidade única e inconfundível de cada um. Toda individualidade merece esse reconhecimento.   
            Na adolescência , entretanto, às vezes, a amizade é possessiva. Temos ciúmes do amigo que dá atenção a outra pessoa. Sentimo-nos roubados do tempo e do afeto que ele dedica a outra.
            É o momento de parar e rever essa amizade. Nosso ciúme é fruto do sentimento de posse, que está ligado ao nosso próprio bem e a nossa insegurança, ou é resultado do descaso do outro que já não valoriza a nossa relação e a nossa individualidade como anteriormente? No primeiro caso, somos nós que não correspondemos á amizade e desejamos amputar as possibilidades de descoberta, de afeto, de encontro do outro. No segundo caso, é o outro que não se comporta como amigo, que se desinteressa da relação e que nos desilude com a falta de reciprocidade. Seja por uma razão ou por outra, a amizade está em crise e é necessário discuti-la, resolver os mal-entendidos para que um novo encontro seja possível, ou que os caminhos se separem.
            Talvez não seja muito fácil encontrar verdadeiros amigos. Mas, quando os temos, vale a pena cultivar sua amizade, que pode vir a durar a vida inteira.

O amor e a paixão

            Por que falar do amor? Não basta amar?
            A resposta é não. Em qualquer idade, o amor, A paixão entre duas pessoas é algo maravilhoso, mas quanto mais conhecemos a estrutura desses sentimentos e das emoções que lhes são relacionadas, melhor poderemos vivê-las, tanto na adolescência quanto em outros momentos da vida.
            Estamos, portanto, escolhendo uma das paixões “alegres”, discutidas no texto sobre o desejo, uma vez que enfocaremos somente a paixão amorosa e, ainda aqui, do ponto de vista psicológico.
            Francesco Alberoni, sociólogo, italiano contemporâneo, estabelece algumas diferenças entre a paixão e o amor, como veremos a seguir.

         A paixão

            A paixão, segundo Alberoni, é uma revelação, uma fulguração que transforma toda nossa vida. É o advento do extraordinário que nos retira da tranqüilidade da vida cotidiana, na qual os laços afetivos se encontram já consolidados, e nos atira num rodamoinho que transfigura a qualidade da vida e da experiência, levando-nos a alterar radical e profundamente nossas relações com os outros e nossa postura frente ao mundo.
            A paixão, ainda de acordo com a terminologia de Alberoni, é um “estado nascente” que pode levar uma pessoa a descobrir outra ou a descobrir ideais coletivos que a façam ligar-se a um grupo ou movimento. Assim, a paixão é um impulso vital que nos leva a explorar todos os possíveis de nossa vida, que nos faz descobrir emoções intensas e ativas nossa imaginação, tornando-nos mais criativos e contribuindo para que assumamos riscos.
            A paixão é ainda, exclusivista. Seu objeto é um só e não pode ser substituído. A paixão exige total dedicação. No entanto, pode ser unilateral, isto é, pode não ser correspondida.
            A paixão cria, também, o tempo e o espaço místicos. Determinadas datas, determinados lugares são considerados “sagrados” pelo par enamorado. São “seus”. Estão ligados à origem da paixão e são comemorados seguidamente, tendo a função de reativar os sentimentos.
           
O amor

            Às vezes, em continuação à paixão, outras, nascendo sem ela, temos o amor. O amor é um sentimento de tranqüilidade, de ternura, de reconhecimento das boas qualidades do outro e de aceitação de seus defeitos. Dura mais que a paixão porque se encaixa e se desenvolve fora das situações extraordinárias, dentro dos limites da vida cotidiana.
            A passagem da paixão para o amor é feita através de provas, algumas cruciais, às quais nos submetemos e submetemos a outro. Se as provas forem superadas, a paixão vai se revestindo de certeza e o amor passa a preencher os espaços da vida cotidiana, durante a qual nos preocupamos com o outro, assumimos certas tarefas p0ara o seu bem-estar, dedicamo-nos à realização de projetos comuns.
A prova à qual nos submetemos é a prova da verdade: queremos saber se estamos mesmo apaixonados, ou se podemos nos distanciar e dar a paixão por encerrada. É a própria força dos nossos sentimentos que nos impele a resistir, a crer que nos enganamos, que estaremos bem sem o outro. Já nos inebriamos, agora queremos paz. Basta, entretanto, pouco tempo de separação para que sintamos o renascer da paixão, do encantamento, da necessidade e do desejo de estar com o outro. Neste caso, a prova foi superada.
            Devemos sempre nos lembrar de que o amor é uma relação que precisa ser cuidada para não cair no ressentimento, na cobrança por todas as renúncias feitas. É um contínuo refazer de projetos que se adaptem a cada mudança de curso de qualquer um dos parceiros e a cada época da vida a dois, pois o equilíbrio entre a individualidade de cada um, sua necessidade de realização e as exigência do projeto comum é extremamente frágil.
           

         A psicanálise

            Sigismundo Freud, médico austríaco, foi fundador da Psicanálise. Ele trabalhou com o professor Berhens e por persuasão fazia o enfermo recordar, quando em estado consciente, do que podia obter a cura de enfermos, desde que fizesse voltar à consciências certas representações inconscientes.
            Freud, assim, procurava tornar consciente o subconsciente, por meio da persuasão. E, deste modo, a psicanálise se constituiu num método para curar enfermidades nervosas, e foi através de suas experiências e de suas curas, que Freud pôde construir sua teoria.
            Observou que os pacientes, quando falarem, narravam muitas coisas de maneira desordenada. Procurou, por entre as palavras, descobrir o que havia de mais importante e que lhe pudesse dar o fio para chegar a descobrir a causa da enfermidade.
            Em vez de hipnotizar os pacientes, deixou-os falar à vontade. Estava convencido de que todos os fatos descritos pelo paciente tinham um sentido, e era questão de tempo apenas para que, do subconsciente, surgisse o essencial que lhe permitisse descobrir a causa da enfermidade.
            Compreendeu, assim, que muitas coisas que sucedem com os sãos têm sua explicação psicanalítica.
            Os esquecimentos não são puramente acidentais. Há uma razão atrás disso tudo. No entanto, tais fatos não são conscientes. O que levava a tal esquecimento era algo de subconsciente.
            Freud estudou esses pequenos erros, esses atos falhados, palavras trocadas, que na vida cometemos todos nós. Por exemplo, se num discurso, alguém em vez de dizer: “o honroso discurso do orador que me precedeu”, dissesse “o horroroso discurso do orador que me precedeu” são lapsos que muitos cometem e que revelam as verdadeira intenções de que os pratica.

         Fundamentos da Psicanálise

O fenômeno da vida é um fenômeno de assimilação e de desassimilação. Duas constantes biológicas dirigem os homens, assim como todos os seres vivos:
a)   Conservação do indivíduo: alimentação, etc. ;
b)  Conservação da espécie: reprodução.
Na vida se dá uma troca de energia entre o homem e o ambiente. Para assimilar, para alimentar-se, o homem retira do ambiente as energias necessárias, em forma de frutos, alimentos, água, ar, etc., que não pode tirá-las de si mesmo. Por outro lado, o homem devolve ao ambiente, ao mundo da natureza que o cerca, o que recebe ( desassimilação). Devolve em parte. Compreende-se, portanto, a relação.
                              Meio ambiente
                              Homem
                                    Meio ambiente
Vejamos agora a relação:
Quando o homem retira do meio ambiente uma certa quantidade de energia, fá-lo pela alimentação. Devolve o que não necessita, o que por motivos vários não pode reter. Quando essa devolução (desassimilação) é regular, há equilíbrio na relação. Quando essa desassimilação vai além, acarretando a saída dos elementos necessários, há depauperação, velhice, etc.; quando a assimilação é maior, há desenvolvimento, crescimento. Na vida do homem há três fases:
a) nascimento, infância;
b)  mocidade, idade adulta, média, e
c)   velhice, morte.
Na primeira, a assimilação é maior; na segunda, equilibrada; na última, predomina a desassimilação. Chamam os fisiologistas “metabolismo” esse fenômeno geral de troca. “Anabolismo” na primeira fase, e “catabolismo”, na última. O que se dá com a vida física do homem, se dá, também, com a vida psíquica, porque esta depende daquela. Vejamos como:

No ventre materno

O feto, no ventre materno, vive sem ambiente. A assimilação e a desassimilação são feitas, pelo organismo materno, por intermédio do cordão umbilical. Nada se oferece ao psiquismo da criança, a não serem os fenômenos de vida, de relação, fenômenos puramente vegetativos. Sua “consciência” é a vida visceral, orgânica, “consciência” Que, na vida adulta, nos escapa completamente. Não há, portanto, nessa fase propriamente consciência. Todos os fenômenos psíquicos são inconscientes.
O feto vive “feliz”, nirvanicamente, como se não vivesse. Existe aí, exclusivamente, o “Id”, que forma a viga mestra do nosso psiquismo. É ele que, desdobrando-se depois, vai dar lugar à formação de nosso “Eu”.
Esse “id” prossegue pela vida afora. È ele que, posteriormente, centraliza os impulsos cegos, os instintos, etc.. Nascendo isolado, em si mesmo e para si mesmo, apesar de transformado em parte, contínua, entretanto, entregue a si mesmo, sobre si mesmo. Essa vida paradisíaca que o “id” vive, no ventre, é rompido pelo

Nascimento

O feto, que vivia sem ambiente, tem, de momento, um ambiente. Este é o mundo. Um ambiente, que se lhe opõe agressivamente.
Impõe-se uma adaptação brusca, Por exemplo, no ventre materno, há um equilíbrio térmico, mas após o nascimento a temperatura torna-se diferente da do ventre materno; a respiração, que antes não existia, a alimentação, que ora deve ser feita, quando antes não havia, senão pelo meio materno, etc., tudo isso obriga a criança a adaptar-se à nova vida ou parecer.
Tudo modifica a vida de relação da criança sob o seu aspecto fisiológico. Identicamente se modifica a seu aspecto psicológico.

Psiquismo infantil

O Psiquismo infantil, que antes era pobre, é agora enriquecido de novas imagens, que lhe oferece, dadivoso, o ambiente. Vai adquirindo, aos poucos, a noção de espaço e a noção de tempo, das quais anteriormente não necessitava.
O “id” tem que se adaptar à nova vida. E, para adaptar-se, transforma-se parcialmente, sem se aniquilar. Do seu arcabouço, surge uma nova modalidade, que se adapta à nova existência. É o “Ego”. É a parte que sente, dos sentidos, a parte que age, que ordena os movimentos. Antes, na vida fetal, não tinha em movimento os sentidos. Não ouvia, não via, etc. Não ordenava movimento nos membros, etc., porque lhe era desnecessário mover-se.
Agora fora do ventre materno, vê, ouve, mexe os braços, o corpo, etc. O “ego” é, portanto, como disse ilustre psicanalista, “uma membrana de defesa”. É a “membrana” que o “id” forma para a sua luta contra o meio ambiente, contrário, agressivo.

Impulsos

Na fase do “id”, fase fetal, ainda no ventre materno, o psiquismo é chamado de psiquismo arcaico. Fizemos notar, que, aí, a consciência é como se não existisse.
Em contato com o ambiente agressor, o “id” (psíquismo fetal) adapta-se bruscamente pelos sentidos, pelo movimento. Novos elementos o enriquecem. Todos os fenômenos psíquicos passam-se, estão, no “id”. O “ego” é, como vimos, a parte aparente da personalidade, a consciência, a que possui os órgãos de percepção, de atenção, de memória, de raciocínio, etc.
Na vida, portanto, o equilíbrio só é atingido instantaneamente. Os impulsos têm por finalidade:
a)   defender-se do meio, pela agressão, etc., e
b)  aquisição de energia do ambiente e sua conservação, para aumento da energia individual.

Impulsos de vida e de morte

Assim vemos dois grupos. Num, luta-se contra o meio, para retirar dele o necessário para a vida orgânica. Noutro, procura-se o equilíbrio, internamente pela nutrição, e, externamente, pela reprodução.
Assim, os impulsos tendem para a destruição ou para a construção. Daí chamaram-se:
a)   impulsos de morte, e
b)  impulsos de vida.
A estes últimos Freud chamou de libido.

Prazer-desprazer

Esses impulsos obedecem a dois princípios:
a)   princípio do prazer-desprazer;
b)  princípio da repetição.
A estabilidade é desejada pelo homem. Todo movimento, que tende para a estabilidade, provoca prazer. Todo movimento, que tende para a instabilidade, provoca desprazer.
Até certo limite da estabilidade, há prazer. Pelo aumento, posterior da carga, dá-se a instabilidade, e manifesta-se o desprazer.
Uma excitação agradável, continuada, torna-se desagradável.
Há um momento intermediário de indiferença. Os impulsos de vida, impulsos sexuais, a libido, têm tendência para o prazer.

Censura

Os impulsos de morte tendem para volta à vida mineral, a vida inorgânica, a vida das coisas que compõem o universo. Os impulsos de vida tendem para a reprodução da espécie.
A criança, ao manusear os órgãos sexuais, é injustamente repreendida pelos pais. A criança, ao observar os fenômenos de ordem sexual, encontra as restrições violentas dos parentes ou pessoas próximas.
Vimos nas páginas anteriores, que o “ego” é formado pelo “id” em contato com o ambiente. A necessidade de se defender, adaptando-se bruscamente e a aplicação do aparelho-sensitivo receptor (olhos, ouvidos, tacto, etc.), tudo vem enriquecer o psiquismo arcaico da criança, aumentando-lhe os conhecimentos.
Os impulsos do “id” tendem a se exteriorizar, passando pelo “ego”.

Recalcamento

Dá-se o recalcamento, quando a vitoria da censura é completa, não vindo à tona do “ego” nenhuma manifestação do impulso censurado. Fica como que esquecido o impulso, guardado no âmago do inconsciente.
Já que falamos em inconsciente, vejamos como o considera a psicanálise, bem como o que chama de consciente.

Consciente e inconsciente

Já dissemos que o “id” é inconsciente.
Porém o inconsciente do “ego” não é semelhante ao inconsciente do “id”.
Há diferença: os fenômenos inconscientes do “ego” podem tornar-se consciente, espontaneamente, enquanto os do “id” só se tornam conscientes pela aplicação do método psicanalítico.

Deslocamento

Os impulsos procuram exteriorizar-se, mas encontram a barreira da censura. Quando, encontrado essa barreira, não podem passar, dá-se o recalcamento, de que já falamos acima. Mas nem sempre se observa tal coisa. Os impulsos, procurando sair, encontrando a barreira da censura, conseguem, muitas vezes, virem à tona, embora, modificados pela oposição oferecida. Essa modificação, transforma-os, muda-os, tornando-os diferentes do primitivo impulso, irrecognoscíveis.
É uma forma de buscar a vigilância da censura. É isso que se chama deslocamento. Antes de passar a esse importante capítulo da psicanálise, examinemos o que se compreende por “Super-ego”.

Associação

A idéia censurada podo, em muitos casos, associar-se a outras idéias. Censurada a primeira, outra e mais outras lhe sucedem até o último ele de uma longa cadeia de idéias.

Transferência

A transferência tem muitos pontos de contato com o deslocamento. Há o indivíduo, há o objeto para o qual o impulso tende a realizar-se. Censurado o impulso em relação ao objeto, sobre o qual não se pode realizar, desvia-se o impulso para outro objeto.

Condenação

Na ânsia de se exteriorizar, o impulso transforma-se, desloca-se. E também transfere-se, como vimos. E não é só. Transformado em imagens, pode dar-se a condenação de duas imagens que se transformam numa só. Nos “lapsos” de linguagem é muito comum observarem-se esses erros, essas condenações.

Dissociação

É o caso contrário de condenação. EM vez de se dar a conjunção de duas idéias numa idéia só, dá-se a divisão em duas idéias de uma única.

Substituição

Dá-se a substituição, quando há a troca de uma imagem censurada pelo “Super-ego”, por outra que se lhe associe, que não seja chocante com o meio ambiente. São os casos de transladação do sentido dos palavras, tão comuns na gíria.
Demos, e, síntese, a concepção psicanalista que oferece, contudo, varinates específicas, segundo os seguidores.


Conclusão

Podemos concluir e avaliar a profundidade e importância de cada elemento que fazem parte de nosso ser. E como é importante trabalhar, buscar cada fato ou conhecimento para o nosso crescimento e equilíbrio interno. A descoberta de Freud (Psicanálise) foi e ainda é um tratamento muito necessário para este mundo tão conturbado em que as pessoas perdem seus valores e origem de sua dor. Continuando a sofrer sem um to de cura. A perda da moral em que a sociedade está cada vez mais decaindo. Que possamos avaliar cada item e buscar o nosso interior analisando assim o nosso jeito de ser.

Bibliografia

® Manual de Psicologia- Theobaldo Miranda Santos
® Psicologia (Enciclopédia de ciências Filosóficas e sociais)- Mário ferreira do Santos
® Fundamentos da Filosofia para uma geração Consciente- Gilberto Cotrim
® Temas de filosofia- Maria Lúcia de Arreida Aranha  
                       Maria Helena Pires Martins
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Sociologia.:.Ciência Política ll

Ciência Política
BIOGRAFIA
NICCOLÒ MACHIAVELLI – 1469-1527

            Nicolau Maquiavel nasceu em Florença em três de Maio de 1469, filho de Marietta di Lodovico Corsini e Bernardo Nicolau Maquiavel, este, doutor em leis. Desde pequeno aprendeu a conviver com os livros, principalmente os clássicos, na pequena biblioteca do pai. Aos doze anos redigia muito bem o latim.
            Aos nove anos assiste ao assassinato de Juliano de Medici na Catedral de Florença e ao ferimento a Lourenço de Medici que escapa com vida numa tentativa de tomada do poder pelo sobrinho do papa Sisto IV. A curiosidade de Maquiavel é aguçada cada vez mais pelos fatos políticos da época.
            Já aos vinte e nove anos(1498) assiste a ascenção e queda do frei dominicano Jeronino Savonarola, líder religioso que desafiava o poder papal que é enforcado e queimado em praça pública. É desta época a preocupação de Maquiavel com a figura política do chamado “profeta desarmado que nada pode contra a força” pois encontra muitos outros casos de príncipes sem exércitos que acabam caindo em desgraça.
            Neste mesmo ano de 1498 torna-se segundo secretário da República de Florença, encarregado de assuntos diplomáticos, dos problemas internos e das questões bélicas. Isto lhe rende muitas viagens e também trava conhecimento com personagens importantes da época. Adquire fama de intelectual e arguto conselheiro. Lucidez, concisão e lógica de argumentação são virtudes inquestionáveis.
            Como Chanceler em Veneza conhece César Borgia, figura temida e de grande determinação e astúcia que chama a atenção de Maquiavel pelo seu crescente êxito. Com a morte do papa AlexandreVI em 1512 assume o seu lugar o papa Júlio II que estava a dez anos no exílio. Este une-se ao Rei Aragão(Nápoles) para dominar Florença e reconduz a família Medici ao poder. Cai portanto o governo republicano de Soderini e Maquiavel é cassado e preso. Chega a ser torturado. Fica preso 22 dias porém com a ascenção do papa Leão X(um Medici) há uma anistia geral.
            Isola-se então em sua propriedade rural e vive em ostracismo político. É neste período que escreve “O Príncipe”, fruto de sua intensa observação e vivência no mundo político. Sua vida é rotineira e simples como ele descreve em uma carta enviado ao amigo Francisco Vetor, a quem confia vários pedidos de intercessão junto aos Medici para voltar a vida pública. A obra é então dedicada aos Medici na esperança de ser reconduzido a um emprego publico; porém os tiranos o vêem como um republicano. Somente em 1520 é lembrado e convidado a escrever sobre Florença. Após isto os Medici caem novamente e em 1527 a república é restaurada. É então identificado como alguém que tinha ligações com os tiranos(Medicais) e definitivamente esquecido. Adoece e morre neste mesmo ano.

CONTEXTO HISTÓRICO

            Já ao início do século XVI a Itália se apresenta dividida em pequenos principados. Seus governadores são déspotas sem tradição dinástica ou de direitos contestáveis. A crise na estrutura do poder era conseqüência da instabilidade política que tinha sua origem na ilegitimidade do poder. Só se mantinha o poder pelas armas e a força militar italiana era constituída por mercenários. Isto tornava instável a conquista e a manutenção do poder.
            Havia um grande vazio: ausência de um poder central. Este vazio era ocupado por militares aventureiros (condottieri) – governantes astutos e bem armados. Conquistavam alguns principados para si e estabeleciam alianças com reis, cardeais e papas.
            A Europa ocidental era monárquica e os principados italianos, presas fáceis. O cenário era de total desorganização política, militar e institucional devido ao anacronismo das cidades - estado e pela ausência de um poder central forte. A igreja, ainda que influente não conseguia dominar os Estados e também não encorajava a unificação dos principados, ducados, reinos e repúblicas sob o poder de um príncipe secular.
            O restante da Europa cresce com o comércio. Alguns empresários italianos transferem o centro de decisão de seus negócios para a Inglaterra e França. A Itália estava dividida, como dissemos, em ducados, principados e repúblicas, todas rivais entre si. Neste contexto, a astúcia e traição eram freqüentes inclusive dentro do clero. Este é o cenário da realidade social à época em que foi escrito ‘O Príncipe”.
            Era a época do Renascimento e a retomada dos clássico gregos e romanos substituía gradualmente o imobilismo da Idade Média (caráter teocêntrico) por um dinamismo indicado por uma nova visão do Homem (caráter antropocêntrico).
            Há uma tentativa da Itália de viver em paz através do Tratado de Lodi que pôs fim a guerra entre Milão e Veneza instituindo a Santíssima Liga com a participação destes e também da República de Florença, do reinado de Nápoles e o papado. Estes cinco principais governos unidos garantem um certo equilíbrio político por cerca de quarenta anos. Menos enfraquecida a Itália prospera e lidera o movimento renascentista.
            A quebra do Tratado se dá durante o pontificado de Sisto IV. Em 1478, Florença então governada por Lourenço de Medici se torna hostil a Roma devido a política de fortalecimento dos Estados pontifícios. O papa Sisto IV aceita participar de uma conspiração para derrubar os Medici não sendo informado de todos os detalhes. Na catedral durante uma missa Juliano é assassinado e seu irmão Lourenço escapa com vida. Os algozes são presos, enforcados e esquartejados pela multidão. Lourenço de Medici sai fortalecido. Enfrenta de um lado a hostilidade de Veneza e de outro o papado unido a Nápoles. Num gesto político audacioso parte sozinho a Nápoles para se encontrar com o rei. Diante da ameaça turca alia-se a Fernando I e desta forma Lourenço colhe grande vitória diplomática sobre o papa. Lourenço morre em 1492 e seu filho Pedro faz um reinado medíocre e é condenado ao exílio por ter se entregue covardemente ao rei Carlos VIII da França. Carlos VIII entra triunfante em Florença convencido de que é um emissário de Deus enviado para punir e reformar a Igreja conforme os sermões de um frei chamado Savonarola que se torna a personalidade dominante naquele momento.

O novo governo assume uma feição Teocrática com campanha moralista e religiosa elevada a um grau desconhecido mesmo na Idade Média.. Rapidamente entra em choque com o papa Alexandre VI; é excomungado e Florença é ameaçada com um interdito. Savonarola é preso pelo governo, torturado e morto em praça pública.
            Maquiavel a tudo assiste tirando lições da brusca queda do líder religioso sem armas. Todos os adeptos a Savonarola são demitidos. Aos vinte e nove anos Maquiavel assume o cargo de secretário na Segunda Chancelaria de Florença. Participa de muitas missões diplomáticas, sendo uma especial: travou conhecimento com César Borgia filho do papa Alexandre VI. É da astúcia e rapidez de César Borgia na conquista a Urbino que Maquiavel identifica uma qualidade fundamental a qualquer príncipe: virtù. (palavra italiana que para Maquiavel significa energia, decisão, capacidade, empenho, vontade dirigida para um objetivo - em latim vir=homem.)
            Em 1512 morre Alexandre VI. É eleito o papa Júlio II (sobrinho de Sisto IV ) que estava no exílio por animosidade aos Borgia. César Borgia é preso e liberado mediante pagamento de pesado tributo. Vai para a Espanha onde morre lutando em completo esquecimento. Júlio II derrota o governo republicano de Soderini e reconduz os Medici ao governo. Começa então o ostracismo de Maquiavel.

TEMAS  IMPORTANTES  PARA  A  ANÁLISE  DA  OBRA

A  VERDADE  EFETIVA  DAS  COISAS

O foco para Maquiavel sempre foi o Estado, não aquele imaginário e que nunca existiu; mas aquele que é capaz de impor a ordem! O ponto de partida e de chegada é a realidade corrente – por isto a ênfase na verità effetuale – ou seja: ver e examinar a realidade como ela é e não como se gostaria que fosse.

O que Maquiavel se questiona incessantemente é: como fazer reinar a ordem – como instaurar um estado estável – como resolver o ciclo de estabilidade e caos. Ele chega a algumas conclusões interessantes – A ordem deve ser construída para evitar a barbárie. Uma vez alcançada, não é definitiva.

NATUREZA HUMANA E HISTÓRIA


Fiel ao conceito da verdade efetiva, Maquiavel estuda a história, sobretudo a antigüidade clássica. Conclui que qualquer que seja o tempo e o espaço o homem tem traços humanos imutáveis quais sejam: ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro – O Príncipe cap. XVII. Destes atributos negativos temos os fundamentos para o conflito e a anarquia.

Para Maquiavel o estudo do passado indicará os acontecimentos que se sucederão em qualquer estado e também quais os meios empregados para solucionar problemas pela coincidência ou similaridade.

Segundo Maquiavel, os principados são dois os tipos de principados: REPUBLICA ou PRINCIPADOS.

Os Principados podem ser hereditários ou novos.

Principados mistos: Quando não são inteiramente novos.

Maquiavel aconselha que quem adquire um território, desejando conserva-lo, deve tomar em consideração duas coisas: UMA, que a estirpe do seu antigo príncipe desapareça; a OUTRA, não alterar as suas leis, nem os seus impostos. Assim, dentro de um brevíssimo tempo, formam um corpo só.

Quando o príncipe reside em seu domínio, dificilmente acontece de vir a perde-lo.
Outro meio igualmente eficaz e mandar colonizar algumas regiões que sejam como chaves do novo Estado.

Esta medida e pouco dispendiosa ou nada custa alem de descontentar uns poucos. Apenas aqueles de que se tira os campos para dar aos novos habitantes.

Neste caso, os lesados por ficarem pobres e dispersos, nunca poderão acarretar-lhe embaraços

Note-se, dizia Maquiavel, que os homens devem ser suprimidos ou lisonjeados, pois se vingam das ofensas leves, mas não podem faze-lo das graves. Por conseguinte, a ofensa que se faz ao homem deve ser tal, que o impossibilite de tirar desagravo.

Em sua opinião o exercito e dispendioso e causa descontentamentos a uma gama muito maior que a colônias, por isso, considerava-os inúteis.

Quando se conquista um pais acostumado a viver segundo as suas próprias leis e em liberdade, três maneiras ha de proceder para conserva-lo- : DESTRUI-LO;  ou IR MORAR NELE;  ou   DEIXA-LO VIVER COM SUAS LEIS.

Sobre os novos Principados conquistados dizia “ Os Estados rapidamente surgidos, como todas as outras coisas da natureza que nascem e crescem depressa, não podem Ter raízes e as aderencias necessárias para a sua consolidação. – Extingui-los a, a primeira borrasca, a menos que seus fundadores eram tão virtuosos que saibam imediatamente preparar-se para conservar o que a fortuna lhes concedeu e lancem depois alicerces idênticos aos que os demais príncipes construíram antes de tal se tornarem.

Segundo Maquiavel, existem ainda duas outra maneiras de um simples cidadão chegar ao poder que não por meio da fortuna ou da virtude – através da pratica de ações celeradas e nefastas ou favor dos outros concidadãos.

Quando um cidadão chega ao poder por meio da ajuda dos seus concidadãos, o principado pode ser chamado de civil e para alguém governa-lo, não precisa Ter exclusivamente VIRTUDE ou FORTUNA, mas sim ASTUCIA AFORTUNADA.

Quem chega ao poder com o auxilio dos grandes, tem maiores dificuldades do que aquele que chega com o apoio dos vulgos.

Desejo do povo e ficar livre de opressão enquanto os grandes querem oprimir o povo.

Na sua opinião, o governo de um desses Estados começa a vacilar quando da ordem civil passa a MONARQUIA  ABSOLUTA.

Aconselha a que o príncipe deve fazer com que seus súditos necessitem sempre do Estado e dele porque a ele se submeterão.

 

ANARQUIA x PRINCIPADOS E REPÚBLICA


Aliada a desordem, característica da natureza humana, existe a presença de duas forças opostas em qualquer sociedade:

a)      Não querer ser dominado nem oprimido pelos grandes,.....e
b)      Os grandes querem dominar e oprimir.

Para Maquiavel só há dois caminhos que respondam à anarquia da natureza humana e ao confronto entre os dois grupos sociais: O Principado ou a República.
A escolha de um ou de outro não é obra do acaso mas recai sobre fatos e situações concretas como se vê:

a)      Nação ameaçada de deterioração, corrupção alastrada = necessita de um governo forte que iniba as forças centrífugas = Principado – não necessariamente um ditador, mas um estadista.
b)      Sociedade equilibrada na qual o poder político cumpriu a função regeneradora e educadora = República. As instituições são estáveis e os conflitos indicam cidadania ativa.

VIRTÙ       X      FORTUNA


Virtù é, como vimos, energia, vontade dirigida para um objetivo.
Fortuna é sorte(boa ou má), acaso ou oportunidade (propícia ou desfavorável). No caso do príncipe é o momento certo, antecipadamente calculado por ele; momento no correr do tempo porém o momento com certeza de êxito garantida pela perspicácia do príncipe.

A crença na predestinação ou fatalidade dominava a muito tempo. A atividade política era uma prática de homens livres, o homem como sujeito da história. Este era um dogma contra o qual Maquiavel teria que lutar.

A fortuna era uma deusa que possuí-a os bens que o homem deseja possuir: honra, riqueza, glória e poder. Era importante seduzi-la antes que outros o fizessem. Como era deusa - mulher era necessário mostrar-se vir homem de inquestionável coragem. Desta forma o homem que possuísse uma virtù no mais alto grau seria agraciado com a fortuna. Maquiavel na sua obra O Príncipe monta um cenário para comprovar que é possível se estabelecer uma aliança com a virtù  pois parece haver um sentido de complementaridade e não de sobreposição.

O poder que nasce da própria natureza humana encontra sua base na força mas o importante é a sabedoria no uso da força; ao governante para se manter no poder não basta ser simplesmente o mais forte – ele deve possuir virtù  para manter o domínio adquirido.


A  Estratégia  em  “O Príncipe”


Como se deve medir as forças de todos os principados?

1)      Deve-se verificar se o príncipe tem condições de oferecer resistência sozinho a quem lhe ataca, isto é, dinheiro e exército para resistir.
2)      Se necessita de ajuda alheia para defender seu trono, ou seja, refugia-se dentro dos muros de sua cidade para defender estes.

Dos principados eclesiásticos

Para conquistá-los basta virtude e sorte e para conservá-los não necessitam nem de uma ou outra coisa, pois as instituições religiosas são tão sólidas de tal natureza que permitem aos príncipes manterem-se no poder seja qual for o modo de procederem ou que vivem.

Diz-se que estes principados são os únicos seguros e felizes.

Obs.: Maquiavel diz isso porque nesta época a Igreja Católica Medieval era muito poderosa, estando acima e no topo da hierarquia máxima do estado medieval.

Dos soldados mercenários

Um príncipe para ter um estado forte é necessário que ele tenha um bom exército e boas leis.

As tropas mercenárias ou auxiliares são inúteis e perigosas, o rei nunca terá tranqüilidade e nem segurança, pois elas são desunidas, ambiciosas, sem disciplina, infiéis, corajosas diante dos amigos e covardes diante dos inimigos e sem temor a Deus. Querem ser soldados do patrão enquanto ele não faz guerra, mas ao romper esta, querem fugir ao compromisso.

Dos deveres de um príncipe para com a milícia

O príncipe não deve cultivar outra arte a não ser a da guerra juntamente com as regras que ela requer para conservar seu estado.

Obs.: “Manter sempre forte seu exército, em sempre estar aliado a ele.”
Das coisas pelas quais um homem ou príncipe são louvados ou censurados

Faça o que for necessário para não cair em ruína o seu trono, mesmo que seja censurado.

Na escolha, do que se deve fazer, encontrará algo com aparência de virtude, que cuja adoção lhe trará a ruína, e algo com aparência de defeito que o conduzirá a uma situação de segurança e bem-estar.


De que maneira os príncipes devem cumprir suas promessas

1º  Só deverá cumpri-las se forem benéficas.

Saiba que existe dois modos de combater: é pela lei ou pela força, não sendo muitas vezes suficiente a primeira convém recorrer a segunda.

Um príncipe sábio não pode e nem deve manter-se fiel as suas promessas quando extinta a causa a que o levou fazê-las. Este preceito não servia se todos os homens fossem bons, como são maus por isso faltariam com a palavra que deram e nada impede que venhamos faltar com a nossa também.

Justificativa para o não cumprimento da promessa feita. “Os homens em geral formam suas opiniões guiando-se pela vista, do que pelo tato; vê o que parecemos ser, e não sentem o que realmente somos.

Os homens são tão simplórios e obedecem de tal forma as necessidades presentes que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar.

É necessário a um príncipe que ele tenha um espírito pronto  adaptar-se as variações das circunstâncias e da fortuna e manter-se quanto possível no caminho do bem, mas pronto igualmente a enveredar pelo do mal, quando for necessário.

Como se deve evitar o desprezo e o ódio

O príncipe deve em geral abster-se de praticar o que o torne malquisto ou desprezível.

O que acarreta ódio dos súditos é usurpar os seus bens e as suas mulheres, pois os homens vivem contentes enquanto ninguém lhes toca nos haveres e na honra.

O desprezo incorre quando os seus governados o julgam, inconstante, leviano e irresoluto.

Tem de ter o máximo de cuidado, esta reputação é perigosa, seus atos devem ser de grandeza, coragem, austeridade e vigor.

Como deve portar-se um príncipe para ser estimado

Torna-se estimado quando sabe ser verdadeiro amigo ou inimigo, isto é, quando abertamente se declara a favor de alguém e contra outrém, é sempre melhor que manter-se neutro.

Deve mostrar-se também amante da virtude, premiando os homens que se sobressaiam.

Deve incutir nos seus súditos a idéia que poderão praticar seu ofício em paz, seja no comércio, agricultura, ou qualquer outro, para que estes não criem outros ramos de atividades para fugir dos impostos. “Idéia de Liberalismo.”
Deve distrair o povo com festas durante certas épocas do ano e manter o controle sobre os grêmios ou corporações que divide a cidade. “Idéia de pão e circo.” “Futebol”.

 

PRINCIPADOS


“Território ou Estado cujo soberano é um príncipe ou princesa.”

Podem ser Hereditários ou Novos.

Maquiavel não atribuía interesse aos Principados Hereditários, pois são demasiados estáveis, demasiado fáceis, pois basta ao Príncipe “não ultrapassar os limites estabelecidos pelos antepassados e contemporizar com os acontecimentos”.

As verdadeiras dificuldades, tanto para conquistar quanto para conservar encontram-se nos principados novos.

Maquiavel propôs um código prático de anexação, devendo-se levar em conta na avaliação o modo de governo, se é despótico (tirano), aristocrático (nobreza) ou se é republicano (livre).

Maquiavel se move no domínio do fato, isto é a força, pois o triunfo do mais forte sendo o fato essencial da história humana, e isto era bastante natural para Maquiavel e seus contemporâneos, é um fato natural, banal.

“O desejo de conquistar é sem dúvida algo de ordinário e natural, e todo aquele que se entrega a tal desejo, quando possui os meios para realizá-lo é antes louvado que censurado; mas formar o desígnio sem poder executá-lo é incorrer na censura e cometer um erro ...”

Precisa-se Ter forças para conquistar, assim para conservar.

A razão primeira e última da política do príncipe é o emprego dessas forças de guerra.

Para todo Estado antigo, novo ou misto, “as principais bases são: boas leis e boas armas.”

Não há boas leis onde não há boas armas.

Boas armas, boas tropas, são apenas as que pertencem ao príncipe, compostas de seus cidadãos, de seus súditos, de suas criaturas.

Para Maquiavel existem quatro maneiras de conquistar, as quais poderão corresponder à diferentes maneiras de conservar ou de perder.
a)      Conquista pela própria “Virtu” (energia, vigor, resolução, talento, valor bravio e se necessário feroz);
b)      Conquista pela Fortuna e pelas armas alheias;
c)      Conquista pela Perversidade;
d)     Conquista pelo Consentimento dos concidadãos.

Maquiavel interessa-se mais pelas duas primeiras maneiras.

Os que se tornaram príncipes pela própria “Virtu” e pelas próprias armas, conhecem muitas dificuldades para conquistar e instalarem seus principados, para nele se radicarem, mas depois encontram muita facilidade para conservá-lo.

Os Principados conquistados com as armas alheias, isto é, pela fortuna, a regra é inversa: facilidade para conquistar, dificuldade para conservar.

É também possível tornar-se Príncipe por meio das perversidades: Para Maquiavel existem dois tipos de crueldades: as bem praticadas e as mal praticadas.

As bem praticadas, são as que se cometem todas ao mesmo tempo, no início do reinado a fim de prover a segurança do novo Príncipe. Parecem menos amargas, ofendem menos.

As crueldade mal praticadas são aquelas que se arrastam, se renovam, e pouco numerosas no princípio se multiplicam com o tempo em vez de cessarem. Os súditos perdem então o sentido de segurança.

Tenha o cuidado de ofender os impotentes se possível. Se é obrigado a ofender os poderosos, seja radical na ofensa.
A conquista pelo fator dos concidadãos exige alguma fortuna e alguma “virtu”. Ora é o povo, ora são os grandes que assim constituem um Príncipe.

O Príncipe elevado pelos grandes – que se julgam seus iguais, que são insaciáveis, e aos quais não domina – encontra uma dificuldade em manter-se  do que um Príncipe elevado pelo povo.

O Príncipe elevado pelos grandes, contra a vontade do povo, deverá fazer tudo para se reconciliar o quanto antes com o povo.

Fica transparente a preferência de Maquiavel pelo povo e sua hostilidade para com os grandes.

Maquiavel não se interessa por estes principados chamados de “civis” e nem pelos Eclesiásticos, que adquirem pela fortuna, e para conservá-los não precisa nem de fortuna e nem de “virtu”. Basta o poder das instituições religiosas.

Distinção entre os Estados a conquistar:

Despótico: Difícil de conquistar porque todos os súditos se agregam ao redor do Príncipe e nada tem a esperar do estrangeiro. É fácil conservar, bastando para isso extinguir a raça do Príncipe.

Aristocrático: Fácil de conquistar. Sempre tem descontentes prontos para abrir o caminho para o estrangeiro. Difícil de conservar, pois não é possível satisfazer a todos os grandes e nem extinguí-los de todo.

República: Difícil de manter. Existe um princípio de vida mais ativo, um ódio mais profundo, um desejo de vingança muito mais ardente, causada pela lembrança da antiga liberdade.

Maquiavel não consegue ocultar sua preferência, ternura e admiração pelos governos livres.

Os três meios para domar a liberdade republicana são:

a)      Venha o Príncipe residir nas terras conquistadas para reprimir as desordens;
b)      Governe o país conforme suas leis, pelos próprios cidadãos recebendo um tributo.
c)      O  meio radical: destruir, aniquilar a antiga e incurável República.

EM  O  PRÍNCIPE


Maquiavel aproveitou a ocasião de mostrar o perfil de César Borgia, tipo de príncipe novo, modelo de virtuosidade política, em oposição a Luís XII, príncipe hereditário que acumula as faltas. O principal da obra está nos capítulos XV a XX, e que constituem a essência do maquiavelismo. Subentende-se  os deveres do príncipe cristão.  O novo príncipe vive no seio do perigo, acompanhando-o dois receios:
1)      o interior de seus estados e o proceder dos súditos;
2)      o exterior e os disignios das potências circundantes.

O príncipe deve aprender a não ser sempre bom, a ser ou não ser bom “conforme a necessidade”. O príncipe deve conservar o seu reino.

O autor está desiludido com ou outros homens. Distingue perfeitamente o bem e o mal,  e que até preferiria o bem, mas que recusa fechar os olhos ante o que julga ser a necessidade do Estado, ante o que julga serem as sujeições da condição humana.

Para um príncipe ser considerado liberal, generoso é bom, todavia ser parcimonioso é um dos vícios que fazem reinar. Igualmente o príncipe deseja ser considerado clemente, mas é a crueldade que restabeleceu a ordem e a união na Romagna. Donde surge a questão clássica: Mais vale ser amado que temido, ou temido que amado?  É melhor ser temido. Porque? Os homens são ingratos. O vínculo do amor rompem-no ao sabor do próprio interesse, enquanto o temor se conserva por um medo do castigo, que jamais os abandona. Ser temido não significa ser odiado. Há uma singela receita para evitar o ódio: é  abster-se de atentar, seja contra os bens dos súditos, seja contra a honra de suas mulheres.

Os príncipes que fizeram grandes coisas violando a sua fé, impondo-as aos homens pela astúcia, é que acabaram por dominar aqueles que se baseavam na lealdade.

O príncipe deve escolher por modelo a raposa e o leão. Deve tratar de ser simultaneamente a raposa e leão, pois, se for apenas leão, não perceberá as armadilhas; se for apenas raposa, não se defenderá contra os lobos. Quando se é príncipe, pode-se “deixar de encontrar razões legítimas para colorir a falta de cumprimento” do que se prometeu.

O novo príncipe deve observar em jamais tornar poderoso outro príncipe, pois seria trabalhar para sua própria ruína. Também o novo príncipe não se deve permanecer neutro, pois os que abraçam esta posição quase sempre vão a ruína.

Somente um príncipe já sábio por si mesmo pode ser bem aconselhado. Deve tomar conselho quando quer e não quando outros o querem. Jamais se deixar dominar por aqueles que o aconselham. Um bom ministro é aquele que nunca pensa em si mesmo, mas sempre no príncipe. Mas o príncipe também deve pensar neste seu ministro, cumulando-o de  riquezas, de consideração, de honras e dignidades, para que receie toda mudança.

O SEGREDO DE MAQUIAVEL.

Nos últimos 03 capítulos de O Príncipe (sobretudo no XXVI), Maquiavel revela seu grande segredo: A Itália. Um violento amor da pátria despedaçada, subjugada e devastada. O sonho de um libertador, de um redentor da Itália atormenta Maquiavel.
No capítulo XXIV, manifesta Maquiavel seu desprezo aos príncipes italianos, tais como o rei de Nápoles, o Duque de Milão, que, após uma longa posse, perderam seus Estados.

No  último capítulo (XXVI), diz o autor que na Itália, nunca as circunstâncias foram tão favoráveis a um príncipe novo que queira “tornar-se ilustre”.

 

O DESTINO DA OBRA


Lourenço de Médicis recebeu O Príncipe em manuscrito. Não lhe dispensou atenção alguma. Nas mãos de contemporâneos onde circulou o manuscrito, o interesse foi medíocre.

A partir de 1519, recupera Maquiavel certo favor dos Médicis, mas devido sua reputação de funcionário prudente, de hábil político, e não por causa de O Príncipe. Recebe uma pensão para escrever a sua História de Florença. Em 1527 os Médicis são de novo expulsos de Florença, restabelecendo-se a República, e a 22 de junho de 1527, aos 58 anos de idade, NICOLAU MAQUIAVEL falece, vítima de males intestinais.

Quatro anos após sua morte, O Príncipe é publicado, com um breve de autorização do Papa Clemente VI (1531); a edição é dedicada a um cardeal. Inicialmente inofensiva, as edições vão se multiplicando. A Renascença pagã. sucedeu a Reforma protestante, que obrigou a própria Igreja a reformar-se interiormente. Assim o livro de Maquiavel achou-se envolvido nos turbilhões de vastas contendas.  O Cardeal - Arcebispo de Canteerbury, Reginald Pole, católico, julga O Príncipe escrito “pela mão do Demôniuo”.  Em1557, o escrito indigno e celerado denunciado pelo Papa Paulo IV; é condenado pelo Concílio de Trento, e muitas outras acusações. Também os protestantes abominam Maquiavel como jesuíta. Os jesuítas o denunciam à indignação católica.

Porém os soberanos e primeiros ministros, apaixonados do Poder, fazem de O Príncipe, breviário do absolutismo, o livro de cabeceira. Por volta de 1738, Frederico, príncipe real da Prússia, compõe um Antimaquiavel, homenagem de um “filósofo”, de um futuro “déspota esclarecido”, ao idealismo político, ao otimismo do século.

Mas Maquiavel, “simulando dar lições aos reis, deu grandes lições aos povos”.

Napoleão aparece a seus inimigos,  como a realização mais perfeita do príncipe. Maquiavel tem direito à mais fervorosa gratidão da Itália unificada de 1870, e dos democratas do mundo inteiro. Na segunda guerra mundial, julgou-se a derrota de Hitler como a derrota de Maquiavel. Mas a derrota de Hitler é em grande parte a vitória de Stalin. No entanto, a força corrosiva do pensamento e do estilo de Maquiavel ultrapassaram, de infinita distância, o objeto do momento. Por ter realçado tão cruelmente o problema das relações entre a política e a moral; por ter concluído, em uma cisão profunda, uma irremediável separação entre elas,

O Príncipe atormentou a humanidade durante quatro séculos. E continuará a atormentá-la, senão eternamente”, como se disse, - ao menos enquanto essa humanidade não tiver analisado inteiramente certa cultura moral, herdada, no que diz respeito ao Ocidente, de alguns Antigos célebres, e, sobretudo, do cristianismo.
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